#M.E.L,
O Nada
Não feche os seus
olhos, para não mais ver a minha imagem.
Não diga que não quer lembrar-se
das palavras outrora ditas.
Não finja que acabou
aquilo que nunca teve chance de começar.
No principio era o nada.
E isso era tudo que tínhamos.
Depois vieram as
palavras, e se tornaram o que mais significava.
E então novamente o
nada, entrecortado de sombras.
Quando o frio se fez
calor para aquecer o coração gelado.
Quando eufemismos se
tornaram a única forma de representar o não dito.
Quando o que não tínhamos,
se tornou mais importante, do que aquilo que estava conosco.
Negra escuridão se fez
a clara luz do dia.
Gritos e choros
romperam como em gritos de alegria.
Tristeza alegre para a
alma chorosa.
Medo esperançoso do
porvir.
Certeza dúbia no
amanhecer do novo dia.
Cuidado sem presa de
sanar a dor.
Então tudo se tornou
nada.
E o nada era tudo que tínhamos
para lembrar.
Da tarde de copiosos
olhares furtivos.
Mas que acabou sem
avisar.
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