CONTO,
Dom Quixote sem Aventura #UlulanteExpress
Ele divergia
do normal para o mundo que vivia, não tinha os costumes que em tantos momentos
identificava os seus pares de gênero. Aprendera com os pais que respeitar as
mulheres era importante, então as respeitava, não fazia piadinhas maldosas ao
ver uma garota na rua, ele não gritava cantadas desrespeitosas as garotas, pela
janela do carro. Não fazia questão de vestir roupagem de macho alfa, porque não
via qual a vantagem da competição à base de testosterona.
Preferia
mesmo a verdade inconveniente à enganação gentil. Não se enganava com o argumento
que existem duas faces da verdade, compreendia que na verdade existe a verdade
e o enfloreio dela para parecer mais agradável à percepção do outro. Mas vindo
dele, devido a sua posição pregressa, até enfloreio da verdade chegava ao interlocutor
de forma inconveniente.
Via muitos
se gabarem que não se importavam com opiniões alheias, mas sangrarem a cada desaprovação
da sociedade. Enquanto ele mesmo sem querer aprovação de outros para a condução
de sua vida, sabia que em algum momento desejaria a afirmação de seus atos por
aqueles o rodeava. No entanto não se importava quando tal coisa não vinha.
Era um estranho a desbravar um mundo que não tinha sido
pensando pra ele. Um cidadão que desconhecia os porquês que levava as ações de
seus compatriotas. Via lugares que ativavam sua memoria sensorial, mas não lhe
despertavam afeiçoamento.
Era Dom Quixote
sem aventura, peregrinado por lugares e sentimentos nunca dantes explorados,
insistindo em manifestações de anacronismo. Mas sem deixar de buscar sentido em
seu tempo. Vida em suas histórias, desejo em novos olhares. Motivação em novos
passos. Beleza em novos encontros. Mesmo na ausência de Sancho, construía enredos
da vida.
Medos ele
tinha aos montes, sem nunca deixar que o paralisasse. Tudo se torna pequeno
diante da necessidade de sonhar grande. E sonhos eles tinham ainda mais que
medos. E estes o levavam pra frente, construindo pontes entre a realidade do
agora e o desejo do porvir.
Era simples
da forma mais complicada de entender. Amava sem limites, aqueles que amor era
devido. Queria bem a todos, mas não todos em sua vida. Estava pronto a
conversar com qualquer pessoa, por mais que fosse pra emudecer enquanto o outro
falasse de suas vivencias. A Bíblia Sagrada não ensina que se deve *examinar tudo,
reter o bem? E ainda que é melhor ouvir do que falar**. Ele amava a santa
palavra, e tentava seguir seus ensinamentos. Porque não seguir estes que a cada
instante se mostrava mais eficazes.
Não se importava de ser diferente. Podia não ser legal agora,
mas não traria arrependimentos no futuro. E nada é mais libertador que uma
mente tranquila e sem fantasmas a assombra-la.
*1 Tessalonicenses 5:21
** Tiago 1:19
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